quarta-feira, 9 de março de 2011

Maquetes de papel

Santuário do Senhor dos Milagres e Stª Rosa de Lima
EQN 206/207 - Brasília - 1994
Aqº Rogério C. de M. Franco
Na semana passada me chegou às mãos um exemplar do livro "Maquetes de Papel", de Paulo Mendes da Rocha (Ed. Cosac Naify). Ao lê-lo me remeti a pelo menos 32 anos atrás, quando terminava meu curso de graduação na Universidade de Brasília. Nessa época, o então presidente do IAB, Antônio Carlos Moraes de Castro (*1940), levou a Brasília alguns ilustres arquitetos para discutir a prática e o ensino. Foi iniciativa das mais proveitosas para nós que pudemos testemunhar e participar daquela primavera cultural, no ocaso da ditadura iniciada em 1964.

Arqº Jorge Machado Moreira
(*1904/+1994)
Como meu amigo Moraes de Castro fosse, além de militante ativo nas causas da Arquitetura, também um mestre informal que tive fora da faculdade, pois trabalhávamos juntos em Planaltina (cidade-satélite de Brasília), tive o privilégio de compartilhar com ele, por horas a fio, a companhia e as lições daqueles ilustres visitantes: Jorge Machado Moreira (*1904/+1994), Paulo Mendes da Rocha (*1928), Ruy Otake (*1928), Severiano Mário Porto (*1930) e outros. Dos dois primeiros ouvi diretamente recomendações no sentido de manter, além do risco de lápis no papel, a composição via maquetes de massa; tudo simples: de papel, papelão, cola, fita adesiva e outros arranjos expeditos; que sempre fossem elementos fundamentais de interação entre o pensamento inspirado da criação e o momento do trabalho de desenho técnico, resultante da ideia concebida. Nunca deixei de seguir essa orientação, talvez uma das razões de satisfação e relativo sucesso profissionais.

C. Ens. Téc. Engº J. Antonio Cardoso
EQN 206/207 - Brasília - 1994
Aqº Rogério C. de M. Franco
Na prancheta ou no magistério, muitos arquitetos convergem ao considerarem o desenho livre, natural, ao lado da cultura e da imaginação, como sendo um dos mais eficientes instrumentos para transformar ideias em realidades concretas. O que às vezes tem ficado esquecido dos profissionais mais novos e omitido dos estudantes destes dias é o fato de que desenho se faz no plano e no espaço. Por isto, construir maquetes torna-se fundamental para estabelecer diálogo entre a imaginação e a comunicação dos propósitos arquitetônicos entre seus autores ou entre a concepção ideal e os estudos mais avançados das possibilidades.

A maquete, abandonada como ferramenta, desprezada do hábito recente no processo do projeto arquitetônico viajou da Arquitetura propriamente dita para morar no processo de venda dos produtos arquitetônicos. Maquetes passaram quase exclusivamente a ser parte das ações de mercado quando se prestam mais à conquista e a fidelização de clientes. Isto acontece quando empreendedores imobiliários ou autoridades querem oferecer tangibilidade a obras ainda não concluídas, antecipando-as em escala reduzida, como intenções mais palpáveis.

Igreja Batista do Lago Sul
SHIS QI 16 - Brasília DF - 1996
Arqº Rogério Carvalho de Mello Franco
Fazer maquetes para exibi-las no mercado imobiliário ou político não é condenável. Ao contrário! O que pode causar dano é o esquecimento desse instrumento enquanto facilitador do processo de idealização do produto arquitetônico por parte de quem os concebe tecnicamente.

Com o advento da computação gráfica e suas facilidades, grande parte dos arquitetos parece pensar que fazer maquetes é tão-somente a consequência do processo de pensar e conceber uma ideia quando, de fato, faz isto parte de uma fase anterior, de modelagem prévia para verificação e até do teste de produtos, como bem têm feito ainda os engenheiros.

Sem um estudo mais profundo, talvez precedido de umas quantas hipóteses, assunto para mestrado ou doutorado, educadores mais cultos e capazes poderiam dissertar ou consubstanciar teses sobre o abandono das maquetes de massa, sumidas das pranchetas dos arquitetos.

Arqº Paulo Mendes da Rocha
(*1928)
Enquanto isto, sinto-me responsável por lembrar aos colegas e aos estudantes que pelo menos os professores reitroduzissem a prática do uso de maquetes pelo menos nas escolas, para que as novas gerações de arquitetos possam ter caminhos mais abertos e ampliadas possibilidades de seguir os mestres da Arquitetura como, dentre tantos bons exemplos, o próprio Paulo Mendes da Rocha.

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