terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

O desenho técnico na comunicação da ideia


Parte de banca examinadora de trabalhos interdisciplinares da Unitri
(esq. p/ dir.) Professores Clayton Carili, Hélio Vaz,  Doralice Nóbrega, Adailson Mesquita,
Sérgio Peixoto, Márcia Medeiros, Rogério de Mello Franco e Kleber Zárate
Membro de banca encarregada de julgar trabalhos de estudantes, fui perguntado por um de meus pares porque exigia - e exijo - "tanto" que se observe as normas de desenho preconizadas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT. A pessoa que me questionou lembrava - com justa razão - que se haveria de "ver além do desenho técnico". Imagino que se referia às questões estética, eficiência funcional, estrutural, econômica e ecológica, os "5Es". Quanto a estes quesitos, apóio totalmente a observação recebida pois advogo a tese; quem deseja fazer boa proposta em arquitetura, estudantes inclusive, só pode fazê-lo se observar in totum estas cinco premissas. Entretanto, quando se avalia uma proposta cuja expressão ainda está na fase do projeto, as maneiras de representar a ideia, me parece, costumam ser o desenho, a modelagem e o texto. Eventualmente,  aparecem outras técnicas que ensejam provocar os cinco sentidos.

Há quem expresse o pensamento arquitetônico pelo desenho artístico a mão livre, como é o caso de Oscar Niemeyer. O mestre, com meia dúzia de linhas sobre uma superfície, demonstra quase toda essência de um edifício ou espaço arquitetural, fazendo com que uma arte expresse a outra. Já testemunhei casos parecidos: o Lelé tem uma expressão de desenho com mais cores e texturas, não raramente acompanhado de explicações sumárias e concisas, escritas em letra cursiva; Paulo Mendes da Rocha, depois de Jorge Moreira, gosta de fazer singelas maquetes de papel comum, verdadeiras revelações das ideias. Vi muitos trabalhos de estudantes de arquitetura elaborados com representação simples, mas densa, em desenhos, maquetes e textos primorosos. De alguns, assisti também, por meio da expressão oral, explanações que completavam nas mentes da assistência o que havia brotado da imaginação de quem expunha. Estes são exemplos de pessoas que brilharam - e brilham em seus legados - pela criação ou, pelo menos, pela comunicação do pensamento criativo.

Figura extraída de uma lição básica
de projeções ortogonais em desenho arquitetônico
Porém, essas qualidades para a comunicação das ideias não estão apensadas a todos os que desejam ou precisam conceber uma arquitetura. Aliás, a minoria desenvolve satisfatoriamente a expressão do que cria, nesse particular, através do desenho artístico ou da escultura e do texto técnico-literário. Por isto, para todos, e mais especificamente para a maior parte dos que desejam fazer arquitetura, se estabeleceu o desenho técnico, quase impessoal em si, que pode ser feito até a mão livre ou, como se apresenta corriqueiramente, ser elaborado com instrumentos que vão do mais primitivo lápis (do latim lapis, -idis, pedra) até chegar aos poderosos computadores de nossos dias. Esta, talvez, seja a mínima exigência de expressão que se possa fazer àqueles que, não sendo dotados de habilidades especiais, mesmo assim, tenham competência necessária para expressar e, antes, para tornar comum a outrem, seus pensamentos na arquitetura e mais além.


Não basta conhecer e saber usar o desenho técnico, há que traduzi-lo de maneira a ser integralmente compreendido, para que tenha sentido para outros. Para isto, à semelhança dos idiomas falados e escritos,  existem os códigos gráficos para desenhos técnicos. No caso do Brasil a recomendação é a observância do que preconiza a ABNT. Para desenhos arquitetônicos, especificamente, a Norma Brasileira NB-6492. Isto é um critério para a justeza - e a justiça - no entendimento do que se vai avaliar para entender. Trata-se de técnica imprescindível também para se julgar objetivamente mediante impessoalidade, uniformidade e universalidade.

Aeroporto de Guararapes em Recife - PE
croqui do autor, Arqº José Mauro Gabriel
Assim, a menos que apareça alguém  capaz de comunicar tão bem suas ideias em arquitetura além do desenho técnico, expressando-se numa linguagem tão natural que possa ser sentida numa interação humana "supracultural", percebível acima dos códigos limitados a nações ou grupos, vejo positiva a exigência mínima da expressão da arquitetura no Brasil, incluindo as escolas de arquitetura, feita na forma culta (e técnica). Para isto temos a língua portuguesa, e o desenho elaborado de acordo com as normas brasileiras que, afinal, são criadas com esse fim.

Em tempo, quero registrar que um dos estudantes julgados pela banca supra mencionada, mesmo claudicante na expressão técnica de seus desenhos, foi além: criativo, completou o mínimo (todavia incipiente) da apresentação de sua ideia por meio de desenhos artísticos muito elucidativos e convincentes, numa expressão artística importante que merece atenção e aperfeiçoamento. Isto valeu para demonstrar que pode haver um grau mínimo de expressão, mas que, para habilidades naturais e competências adquiridas, o limite é extremo, ousado e ainda desconhecido.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Fazer arquitetura demanda saber desenhar, falar e escrever

OSCAR NIEMEYER DESENHANDO
O desenho artístico pode estar reservado para
a expressão de poucos, mas o desenho técnico
é a expressão universal acessível a todos.
O desenho técnico na Arquitetura é uma forma de expressão gráfica cuja finalidade principal é representar posicionamento e dimensionamento de objetos idealizados ou já construídos. O conjunto de elementos que constitui o desenho arquitetônico, linhas, números, símbolos e indicações, devem ser expressos segundo normas, de modo a dar-lhe linguagem de entendimento universal, fazendo com que a idéia que se busca representar por meio do desenho seja transmitida com fidelidade do autor para o observador, do servidor ao cliente.

Como poderá o pedreiro, o marceneiro, o armador, o montador; enfim, qualquer oficial ou interlocutor, tornar realidade o projeto idealizado pelo arquiteto se, todos os envolvidos, não estiverem munidos do conhecimento comum das regras que envolvem a expressão gráfica contida no desenho arquitetônico? Caso não houvesse esse conhecimento, essa comunhão, ocorreria algo comparável ao absurdo "diálogo" de por carta escrita entre dois analfabetos.

Do mesmo modo que a linguagem verbal ou escrita, nos casos técnicos, ou mesmo onde a criatividade se faça ainda proeminente, a norma deve ser observada sob pena de não se ter a comunicação entre o sujeito e o objeto, de não se ter o necessário censo comum que justifica, enfim, a palavra comunicação.

Nos projetos de arquitetura, a necessidade de dar forma culta à representação gráfica das idéias não diverge do que se tem na escrita ou na fala, bem como nos demais códigos para a difusão de idéias. Só quem conhece o código Morse, por exemplo, poderá emitir "nele" a mensagem decifrável por outrem que, evidentemente, também domine o mesmo código.

Para aplicação no Brasil, o desenho técnico de arquitetura deve seguir a norma oficial que está consubstanciada na NBR 6492. Ela trata especificamente da representação de projetos de arquitetura. Do mesmo modo que para aqueles que desejam falar e escrever com vistas ao estabelecimento de documentos oficiais se requer a proficiência em português. Para se transmitir idéias de arquitetura com fins objetivos no Brasil se exigirá o domínio de ambas as regras citadas: a gramática e o vocabulário da Língua Portuguesa e os postulados da NBR 6492.

Assim, para toda expressão técnica de idéias arquitetônicas nos cursos de arquitetura, urbanismo e paisagismo, seus serviços afins e correlacionados, ministrados por este professor, se exigirá o domínio completo da NBR 6492, em toda sua abrangência, além da Língua Portuguesa na forma culta, claro, que complementará os esclarecimentos que não puderem ser expressos unicamente por meio gráfico.

O conhecimento e o domínio da citada norma, além da forma culta da Língua Portuguesa, será exigida como condição “sine qua non” para assistência aos cursos e disciplinas ministradas sob a responsabilidade deste docente, ficando os estudantes matriculados cientes de que, antes de passarem à plena condição de alunos, devem conhecer e saber manejar de pleno as ferramentas que são objeto da citada norma.