domingo, 20 de fevereiro de 2011

Memorização

Sou contra a memorização vazia embora aprove esse recurso como instrumento para se alcançar objetivo mais nobre no processo ensino-aprendizagem. Aprender deve ser um processo de introspecção crítica e útil do conhecimento, de modo a fazer com que valha para a vida pratica. Imaginei que uma pequena aventura pela qual passei com meus alunos possa expressar com humor um pouco disto.


Há alguns dias, enquanto lecionava, escrevi na lousa a letra "gama" para expressar a densidade de um "elemento" construtivo, no caso, o concreto armado. Um aluno me interrompeu curioso para saber "que letra é aquela", enquanto tomava lá suas notas. Tentei responder. Foi inútil, não me recordava o nome da letra grega. Tentei mais uma vez e nada. Havia esquecido. Foi um tipo de "apagão" do setor de meu cérebro que guardava aquelas informações inseridas à força no antigo colégio. Enquanto punha a "memória RAM" para funcionar na intenção de recobrar a informação perdida, fiz uma pausa na palestra para contar uma anedota que ouvira recentemente sobre a memorização nas escolas, uma ilustração indireta da minha falha momentânea:


"Um homem saia do hotel numa cidade grande e violenta. Caminhou poucos metros com toda estampa de típico turista e, enquanto passava ao lado de um beco, foi para ali empurrado por um assaltante armado que aos gritos lhe impunha uma arma como ameaça do roubo. Dizia o meliante que o homem lhe passasse 'tudo' e foi obedecido sem vacilação. Achando magro o butim, o criminoso ameaçou matar a vítima. Foi então que o assaltado implorou pela vida, alegando suas lamúrias. O bandido, como se fosse sábio e clemente, concordou em poupar-lhe na condição de o pobre homem recitar-lhe as preposições essenciais. De imediato, o indefeso cidadão discorreu, ainda que gaguejando: ' a - ante - após - até - com - contra - de - desde - em - entre - para - perante - por - sem - sob - sobre - trás'. Surpreso pela agilidade ou precisão do desgraçado (ou com algum movimento da rua) o pirata desapareceu num átimo e uma vida foi preservada. Também estupefato, o cidadão se refazia pensando com seus botões: 'bem que minha professora falava que saber as preposições seria útil na vida. Agora, por exemplo, salvou a minha!'.

Para que meus alunos e leitores possam, num futuro, ter melhor sorte que eu no lapso pelo qual passei em sala de aula e, quem sabe, sejam capazes de recitar as letras do alfabeto grego, aqui vão elas a ilustrar estas palavras. Espero que nunca necessitem disto para salvar-lhes a vida. Mas, se precisarem...